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1º Informativo Mensal da AEVB - Associação Evangélica Brasileira - Inicio da década de 90.

1º Informativo Mensal da AEVB - Associação Evangélica Brasileira - Inicio da década de 90.

 

 

Convergência.
Associação Evangélica Brasileira.

 

Ano 1 - Nº 1

Quando a missão é escândalo.

 

O “fazer” missionário da igreja sem unidade é escandaloso. Primeiro porque no Reino de Deus não existe espaço para o fazer individualista. No Reino o fazer é sempre comunal, e tem a ver com o Corpo de Cristo e com a comunidade do povo de Deus. Essa é a ideia básica de João 17. João associa sempre o fazer da missão com a necessidade da vivência comunal e da unidade visível do povo de Deus. De acordo com João 17, tentar fazer missão sem unidade é absolutamente impensável.

A unidade a qual Jesus se refere em João 17 não é estrutural mas também não é apenas metafísica. Nosso problema é que estamos sempre vivendo entre “OUs”, ou isto ou aquilo. Neste caso, ou se é pró unidade estrutural, aí então se vaticaniza tudo e se constrói a “Basílica de São Pedro”, indo-se para o extremismo estrutural e rigidamente hierarquizado, transformando-se a Igreja num Estado; ou então vai-se para o extremo, como nós evangélicos, em geral, temos ido: comunidades que proclamam uma unidade metafísica, nas regiões celestiais, acerca de cuja unidade se diz “ninguém vê, mas Deus vê”.

A mim parece que o que Jesus está dizendo em João 17 não é nem uma coisa nem outra. Nem é estruturalismo estatal - vaticanismo - e nem é apenas unidade metafísica, invisível, abstrata, esotérica em algum lugar do universo que só Deus enxerga. Jesus está falando de uma unidade organicamente visível na história, através de ações de fraternidade prática, vivência de propósito e amor objetivos e ideais do Reino inequivocamente assumidos como prioritários, e portanto, dignos de nossa convergência.

Vejam que a historicidade de tal unidade é tão perceptível historicamente que se diz em João 17:18-21 que o mundo poderia ver esta unidade a fim de crer. O interessante é que o Novo Testamento diz que o mundo não vê quase nada, “o homem carnal não entende as coisas de Deus”, porque “o príncipe deste mundo cegou o entendimento dos incrédulos”. Mas Jesus disse que com relação à unidade da igreja o mundo “veria” isso porque seria uma unidade mais do que metafísica, mais do que espiritual: seria uma unidade analisável, mensurável, sociologicamente compreensível, socialmente perceptível. O mundo perdido, cego pelo diabo, e incapaz de perceber a profundidade espiritual do Reino, todavia deve ser capaz de perceber a unidade do povo de Jesus.

 

Fazer sem unidade é escândalo pelas seguintes razões:

 

1) Nega o valor da fé.

Os versos 20 e 21 dizem: “Eu rogo, não somente por estes, mas pelos que vierem a crer em mim a fim de que sejam um”. Para Jesus, essa fé que Ele estava introduzindo no coração dos discípulos teria que ter como resultado a produção da unidade.

Hoje se diz que o comunismo não tem valor nenhum porque as sociedades que ele produziu foram inócuas, malignas, tiranas e tudo mais. Julga-se o comunismo teórico pela prática das sociedades comunistas. Todavia, o mesmo juízo histórico pode ser aplicado à Igreja. O mundo pode dizer, caso queira, que a fé em Jesus não é relevante porque a Igreja que essa fé produziu é uma igreja desunida, fragmentada e irreconciliável. A fé é negada quando por causa de nossas idiossincrasias, pequenez, fechamento em nós mesmos, egoísmo, intransigência, doutrinarismo, divisionismo etc, nós nos dividimos. Nós podemos até dizer que estamos fazendo isso em nome da fé, mas Jesus de alguma forma diz que nós estamos negando a fé mais essencial quando assim procedemos.

 

2) Nega o poder da obra de Jesus.

O verso 19 diz: “que eles sejam santificados na unidade para que sejam um”. Ou seja, Jesus disse “eu me santifico a mim mesmo para que eles sejam santos”, e entra no tema da unidade logo a seguir. Isso nos faz pensar que na mente de Jesus Unidade é uma das marcas de verdadeira santidade. Os santos vivem em comunhão uns com os outros e o sangue de Jesus os purifica de todo pecado.

 

3) Nega a nossa fé na natureza do Deus Triuno, um em três.

Unidade deve ser o resultado natural da compreensão da natureza do ser de Deus. Quem aceita um em três, não tem problema de ser um com os diferentes. Se eu aceito um em três eu não tenho problema de ser um com seu irmão que é “outro”, e que em Cristo é “um” comigo.

A des-unidade evangélica tem mais a ver com a pré compreensão politeísta do mundo do que com a visão monoteísta do mundo. Nossas divisões parecem mais com as dos deuses do Olimpo do que com o Deus da cruz que disse: “Quando eu for levantado da terra atrairei todos a mim mesmo”, ou ainda, como em João 17: “Eu em ti e tu em mim e eles em nós”.

 

4) Nega a dialética aperfeiçoadora do processo de vida social.

Jesus diz no verso 23: “Pai, que eles sejam um a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade”. Isso porque nós só crescemos nas contradições, na dialética da vida social da fé. Aqueles que só se encontram com os iguais não crescem. Por isso que eu gosto de participar de encontros entre os diferentes.

Jesus disse que a fim de que se cresça como comunidade, tem que ser dentro da dialética da vida processual, onde se é aperfeiçoado na unidade, uma vez expostos à diversidade da comunhão da fé. Unidade não é afirmação dos iguais, unidade é a afirmação dos diferentes que se encontram numa convergência superior às diferenças.

 

5) Nega o amor de Deus pelos homens.

O verso 23 nos fala a respeito disso. Se os amados de Deus não se amam, é porque nunca conheceram o amor de Deus, e se dizem conhecer a Deus e não o amam é porque o Deus que conhecem não é amor. Observe como o verso 23 é forte: “Eu neles, Tu em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade...". [Continua. Esperamos em breve publicar o complemento]

 

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Transcrição:
Aline Bentes
aline.bentes@gmail.com


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