English | Português

Reflections

A NOVA ERA É FUNDAMENTALISTA

A NOVA ERA É FUNDAMENTALISTA



Estamos no meio de uma guerra de Fundamentalistas. Desde antes do início da Guerra no Iraque que venho dizendo que Bush e Bin Laden acabariam por ser vistos como irmãos. Hoje pouca gente duvida que eles sejam animados pelo mesmo espírito. Trata-se de um espírito, de uma era, de um aion. É a Era da Irmandade do Ódio. Eles andam conforme o mesmo espírito, e a prova disso é o que lhes é comum: o ódio movido pelo amor à causa da crença fundamental. O Fundamentalismo de hoje não tem em Abel e Caim o seu arquétipo. Ao contrário, trata-se da manifestação do encontro outrora evitado entre Lameque, o mau, e Caim, o homicida. Eles se odeiam, mas são irmãos. Afinal, irmãos também se odeiam especialmente aqueles que têm nas veias o mesmo sangue da certeza de suas próprias certezas amarguradas—e que é sempre um oráculo para os outros. Fundamentalismo é fundamentalismo. Por isso gera sempre o mesmo produto: ódio, protesto raivoso, tentativa de fazer a convicção pessoal ser a lei universal, e a inclinação essencial para engolir camelos e coar mosquitos, conforme disse Jesus dos fariseus. Todo Fundamentalismo é fruto do surto humano no que tange ao significado do seu próprio ego e acerca da pouca ou nenhuma importância acerca do significado de qualquer outro ser que não exista conforme o conjunto de crenças do “Fundamento”. Quando o Fundamentalista diz “Eu sou”, implicitamente, ele também está dizendo: “Só têm direito a ‘ser’ os que se parecem com meu grupo. Fora de ‘nossa’ semelhança não há salvação”. Fundamentalismo é a heresia que prevaleceu. Assim como a Ortodoxia, o Fundamentalismo é a doutrina que deu a si mesma, pelo poder, a alcunha de “caminho reto”. Fundamentalista é todo aquele que faz de sua cultura e da cultura de um tempo—ou de um líder—uma lei para o mundo. O Fundamentalismo é a tentativa de absolutização e de cristalização de um passado, e que deve ser norma para todos os presentes e futuros. Todo Fundamentalista chama de “fundamento” aquilo que é periférico e de periférico aquilo que de fato é fundamental. A ética de juízo do Fundamentalista para os outros é a Ética da Importância dos Mosquitos. E ele só conhece tolerância para si mesmo, ou para aqueles que ele considera “próximo” e “semelhante”. Para esses, a ética Fundamentalista é outra. É a Ética da Insignificância de Todo Camelo. O mosquito dos outros é intolerável para ele, e o camelo dele tem que ser leve e inexistente para todos! O Fundamentalista acredita que ele é o salvador do mundo. Acredita que sem ele Deus está perdido. Acredita que a verdade é a sua própria visão da vida (ele sempre diz que essa visão é em “fidelidade” a alguma coisa superior). Fundamentalista é todo aquele que está disposto a matar em nome de Deus—ou de alguma outra coisa que seja “o deus” absolutizador da sua visão da existência. O Fundamentalista não aceita nenhuma forma de liberdade para crer—somente a dele—; e não celebra a Liberdade como liberdade, mas como “oportunidade” para fazer impor a sua crença. Sim, como o Fundamentalista é aquele que entregou a razão a “algo maior”, mas que ele, o fanático, crê ter entendido por inteiro, ele odeia a todo aquele que exerce o seu próprio livre arbítrio, pois ele mesmo não o possuiu. Por isto, quando ele tem “liberdade”, ele sempre que proibir a dos outros. O Fundamentalista é aquele que nunca descobriu nada de si mesmo, mas vive odiosa e apavoradamente para fazer cumprir o que lhe foi ensinado. O ser que assim precede se faz ovelha do Pastor Ódio! Para o Fundamentalista o único livre arbítrio que existe é o dele, e o de todo aquele que com ele concorda. Todos os demais estão errados, por isso, devem ser “dirigidos para o bem”, ainda que seja à força. O Fundamentalista é aquele que ao invés de dizer: “Eu creio”—e, assim, viver conforme a sua fé—; diz: “Quem não crê como eu é inimigo de Deus”—e, assim, ataca ao diferente. O Fundamentalista odeia a liberdade. Ele odeia ver que outros vêem ou que sabem por si mesmos. Ele quer ser guia de cegos, mesmo que para isso ele mesmo tenha que perder a vista. Liderar é mais importante do que ver. O Fundamentalista é duro! Ele é tão duro quanto forte for a sua crença. Pois sua crença será sempre dura para todo e qualquer que diga que não deseja viver por ela. Para ser um bom Fundamentalista o sujeito tem que ser sem misericórdia. Ou melhor: ele tem que ter misericórdia apenas dos seus aliados, enquanto forem aliados; e precisa, em nome da ortodoxia, odiar e repudiar a todo aquele crer diferente. O Fundamentalismo ainda vai acabar com a Terra. Autodestruição é sempre uma batalha entre Fundamentalistas! A maior alegria de todos os Fundamentalistas será quando a Terra for toda cheia de clones deles, ou, não sendo assim, quando o mundo acabar porque eles lutaram até ao Fim. Caio Escrito em 2004
We use essential cookies and technologies in accordance with our Privacy Policy and, by continuing to browse, you agree to these conditions.
OK