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ADENDO: MINHA MULHER É UMA ESCULTURA, MAS NÃO GOSTA DAQUILO.

ADENDO: MINHA MULHER É UMA ESCULTURA, MAS NÃO GOSTA DAQUILO.

   

-----Original Message-----

From: MINHA MULHER É UMA ESCULTURA, MAS NÃO GOSTA DAQUILO. O QUE FAÇO? (II)

To: contato@caiofabio.com

Sent: terça-feira, 2 de dezembro de 2003 08:40

Subject: E AS MULHERES TRAUMATIZADAS?

 

 

 

Caio,

 

Andei lendo o site e a mensagem MINHA MULHER É UMA ESCULTURA, MAS NÃO GOSTA... A mensagem me provocou uma inquietação. O irmão anônimo escreveu: “Mulher é linda e atuante na Igreja. Sexualmente, porém, é completamente frustrante. Ela aparenta não ter qualquer desejo; chega a ser uma tortura ver “aquele monumento" se despir sem vontade de fazer nada. Bem ali, na minha frente, todinha, e nada!”

 

E você respondeu: “Não há explicação para tanto descaso para com o sexo, a menos que ela não goste de você, e tenha casado apenas porque mulher crente e séria não deve ficar solteira — tirania eclesiástica!”

 

Prossegue: ”Não acredito em mulheres frígidas. Acho que há mulheres que não amam os seus maridos, e por isso não gostam de se dar a eles; ou, quando se dão, fazem-no naquela de total "passividade", se tanto; ou naquela de Censura Prévia: isto aqui não... assim não gosto... desse jeito dói... nunca fiz isto antes... será que tá certo?... assim me constranjo... E assim, vai...”

 

Caio, você já pensou que esta mulher pode ter uma historia de abuso sexual serio? O descaso dela pode ser uma dissociação, a frigidez pode ser uma dissociação... a censura previa: “isso aqui não pode...”— pode ser uma tentativa de evitar as cenas em formas de flash backs que assaltam a mente dela, fazendo-a lembrar do que sofreu no passado...

 

Desculpe a intromissão Caio, mas como você publicou a mensagem, acho que muitas mulheres e homens vão ler.

 

Se conheço um pouco algumas mulheres abusadas, elas vão preferir admitir que não amam seus maridos a admitir a profunda vergonha de que sofreram abuso. As igrejas estão cheias, lotadas, destas historias. E pior: centenas ou milhares dos abusadores estão na igreja também... eu sei que você sabe disso!

 

Desculpe outra vez por me intrometer, mas eu fiquei alguns dias remoendo esta historia e não apaziguei minha consciência. Talvez o caso deste irmão seja mesmo falta de amor da mulher dele... mas outros, muitos outros, talvez não sejam.

 

E eu tenho visto este site se tornar um “Centro de Terapia Intensiva”, então certamente as sobreviventes de incesto e abuso sexual estão por ai... se elas se identificarem com esta “mulher escultural que não gosta daquilo” vão se afastar, e perder uma das poucas ou únicas esperanças que tem surgido nos últimos tempos: falar com um pastor humano que entende a humanidade!

 

Os abusadores também estão rondando por ai, porque muitos deles também sofrem com seu pecado; por outro lado, alguns deles podem se sentir, de alguma forma perniciosamente distorcida, autorizados a continuarem “pegando o que é seu por direito”...

 

Com imenso amor fraternal, e imenso respeito por tudo o que você tem sido para mim e para todos os outros.

 

___________________________________

 

Resposta:

 

 

 

Minha querida: Paz!

 

 

 

Você tem razão! Sem dúvida há mais entre o céu e a terra do que supõe qualquer de minhas respostas.

 

Na resposta eu disse também que poderia haver a possibilidade dela estar “doente”. Lembra? De fato, por doente, eu quis dizer muita coisa: 1- Trauma psicológico. 2- Problemas hormonais sérios. 3- Uma inapetência traumática com o sexo em razão da falsa espiritualidade. 4- O trauma sexual evangélico, que é um mal que existe e precisa ser tratado com respeito e calma.

 

O fato é que, em geral, o evangélico é, muito comumente, um ser traumatizado sexualmente — homens e mulheres! E muitas outras coisas...

 

No entanto, o que observo, embora todas essas coisas existam, é que a maioria das mulheres sofre de um trauma mais básico, e não tem nada a ver com abuso sexual ou problema hormonal. De fato, as mulheres cristãs carregam dois graves inibidores:

 

1- O ascetismo religioso: há muita regra no meio cristão, até para fazer amor. E as pessoas são doutrinadas desde cedo, a esse respeito.

 

2 - A inaptidão dos homens: me choca perceber a falta de tato dos homens, a carência de delicadeza, de capacidade de levar a mulher a confiar e a se abrir; e, sobretudo, a falta de consciência de como o prazer está condicionado pela confiança e pela intimidade. A maioria pensa que é apenas uma questão de “plugagem”, de botar o aparato certo no lugar supostamente correto. E não é assim.

 

Tudo o que eu disse naquela carta tem a ver com as seguintes observações práticas, tiradas de 30 anos ouvindo mulheres, e também de minha própria experiência como homem — eu nunca disse a ninguém que vivi internado num mosteiro! O que vejo?

 

1- A maioria das mulheres confunde aquela aflição pré-orgásmica com prazer. Assim como a maioria dos homens confunde ejaculação com prazer. E é uma pena. Pois quem se satisfaz com a aflição — que é boa — jamais conhecerá o êxtase.

 

2 - De fato, até onde observo, a maioria esmagadora das mulheres já teve algum prazer sexual, mas não sabe, na realidade, a riqueza do potencial que nelas habita. Parece que para muitas, é uma coisa tipo: “deu sorte de naquele diz ser...”

 

Mas não tem que ser assim. Todo dia pode ser a regra, não a exceção. E será assim, maravilhoso, sempre, apenas se ambos se amarem, se desejarem, e se o homem, especialmente ele, souber abrir o jardim recluso, e entrar nele como o espírito de Cantares.

 

No entanto, essa é uma coisa para dois, não para um. Não basta o oposto: uma mulher apaixonada. Se o homem não souber e não desejar retribuir, em pouco tempo tudo fenece e murcha.

 

3 - Eu sei que, por mais traumatizada que seja uma mulher, se o marido for gentil, meigo, carinhoso e hábil, o “trauma” será curado. E mais: o que cura trauma sexual é sexo bom, amoroso, pleno de confiança e intimidade.

 

4 - Naquela carta, como em todas as outras, sempre há muito mais coisas que eu julgo ser sábio deixar de fora do texto que vai “colado no site”. São coisas que identificariam as pessoas, pois, de fato, a maioria não escreve anonimamente: eu as torno anônimas para os demais, bem como elimino todos os indícios de identificação.

 

Pela carta daquele irmão, o que me pareceu é que a esposa dele não gosta do ato, não tanto quanto ele gostaria que ela gostasse; e como ele mesmo disse, ele tem “comparações” a fazer em relação às outras ex-esposas.

 

Ele havia tido duas mulheres normais nessa área, e que não carregavam “os traumas da cultura evangélica com o sexo”, e com ambas tudo era muito bom. Foi apenas com a evangélica que aquela limitação se manifestou.

 

Ora, para mim é sintomático: por que justamente a evangélica se manifestou dessa forma?

 

O que penso é que além de todos os possíveis traumas — como abusos —, há um que não pode ser esquecido. Sabe qual é? O trauma de ser sexualmente evangélico. Trata-se de algo muito mais sério do que a gente avalia.

 

Eu agradeço o carinho de sua carta e sua preocupação, pois, se para alguém ficou qualquer “opressão” dada à rapidez de minha resposta e ante a simplicidade de minha afirmação, eu gostaria que este adendo, provocado pela sua Carta, fosse imediatamente incorporado ao que eu disse anteriormente.

 

Muito obrigado pela sua genuína preocupação. Só mais uma coisa: posso estar enganado, mas creio que uma mulher sempre sabe quando ama o seu marido, e não creio que um trauma sexual também impeça o marido de discernir tal coisa. O amor sempre encontra um meio de se expressar; e, além disso, sempre acha um jeito de trazer cura para as suas próprias feridas.

 

Receba meu abraço carinhoso.

 

 

 

Nele,

 

 

 

Caio

 

2 de dezembro de 2003

 

Copacabana

 

RJ

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