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DARCY DUZILEK FOI MORAR COM JESUS

DARCY DUZILEK FOI MORAR COM JESUS

 

 

 

   

DARCY DUZILEK FOI MORAR COM JESUS

 

 

 

Acabo de ser informado da morte de meu amado e fiel amigo Darcy Duzilek.

 

Minha cabeça está estourando de dor! Meu coração está misturado ao meu estomago — sinto náusea de saudade na alma. Mas sei que aquele alemão quieto já está dançando com anjos e com santos redimidos.

 

Conheci o Darcy pessoalmente depois que mudei para o Rio em 1981. Manfred Grellert, amigo comum, nos apresentou para sempre.

 

Logo vi que estava diante de um homem.

 

Homem raro; integro em tudo; honesto até onde a honestidade dele se percebia; trabalhador; organizado; amigo dos amigos; comprometido com o reino; esperançoso de que a “igreja” se tornasse Igreja; colaborador em todas as boas causas; engajado na AEVB; presente nos Congressos da Vinde; disposto a subir morros comigo no “Rio Desarme-se”; presente nas ações de Rua no Rio (contra a violência); líder dos Batistas.

 

Darcy foi uma das mentes mais lúcidas da verdadeira Igreja no Brasil!

 

Assumiu todas as responsabilidades que lhe foram confiadas: pastor, professor de teologia no Seminário Batista do Sul; Presidente da Visão Mundial; Vice-Presidente da AEVB; Presidente da Convenção Batista Brasileira; pastor da Igreja Batista de Itacuruça; Reitor do Seminário Batista do Sul; membro de dezenas de organizações cristãs de ajuda e diaconia ao redor do mundo; escritor; e, sobretudo, marido da Nancy; e pai do Sergio e da Heloísa.

 

Em 1998 Darcy viveu seu tempo mal; e eu também.

 

Com pouquíssimas exceções todos o deixaram.

 

Acompanhei todo o processo; e, logo depois, eu mesmo estava sob o mesmo tido de angustia.

 

Irmanamo-nos ainda mais na aflição!

 

Nunca nos afastamos. Naquele período de exílio (1999) ocultou-se no silencio de uma casinha do irmão no interior do Paraná.

 

Fui vê-lo lá. Choramos juntos!

 

Depois de um ano sem nos vermos (eu fiquei na Florida), ao voltar ao Brasil logo nos reencontramos; e nos vimos muitas vezes, afora nossas conversas telefônicas.

 

Lancei o Nephilim e ele estava lá, humilde, simples, na fila, sendo observado, mas apenas caminhando. Tenho a fita do lançamento do livro e ele está lá, com o livro não mão, oferecendo para que eu o autografasse.

 

Quando lancei o livro Tábuas de Eva (seqüência do Nephilim), lá estava ele. Quando comecei o Café com Graça, sua presença foi concreta, e muito me animou.

 

Conversamos muito sobre o que nos havia acontecido. Tango & Café, Café com Graça, e o 14 Bis eram nossos pontos de encontro.

 

Voltou para casa com a coragem dos humildes. Foi acolhido e amado. Não havia como ser diferente. Todos eles são gente boa de Deus.

 

Darcy teve as maiores glórias entre os batistas, mas também teve a maior desconsideração.

 

Até aqui em Manaus, nos barcos que hoje aqui há em parceria entre a Ig. Preb. De Manaus e a Visão Mundial, os quais vieram primeiro por solicitação minha ao amigo Manfred, então Presidente da Visão Mundial; e o segundo, por intercessão minha junto ao Darcy — tiveram seus nomes da seguinte maneira: no primeiro o nome do Manfred Grellert foi justamente lembrado; mas no segundo, doado no tempo da gestão do Darcy na Visão Mundial, em razão do que lhe ocorrera em 1998, foi batizado por um nome sem significado histórico. Vi e me revoltei. Não pelo “nome”, mas pelo que a mudança significa como pecado de preconceito e ingratidão.

 

A última vez que estivemos juntos numa reunião pública foi quando de uma palestra minha no Seminário Batista do Sul, há uns três ou quatro anos. Falei aos alunos de todas as classes; e, depois, saí com o Darcy, presente no auditório. Fomos até a Biblioteca e inspiramos cheiro de milhares de livros idos e precisos, nos abraçamos, e ele disse: “Quem bom que tudo isso foi dito aqui!”

 

Ele estava feliz, em sua humildade (ele que já fora tudo naquele lugar e na denominação), por ter sido convidado para dar aula de novo no Seminário. Estava recomeçando.

 

Aqui também desejo expressar a minha gratidão por tudo o que de grato o Darcy me expressou acerca do dono da UNIGRANRIO, amigo de outros tempos, e que deu a ele um lugar no corpo docente da Universidade, em Duque de Caxias, no Rio. Hoje, entre outras coisas, ele era o Coordenador do Conselho de Ética da Universidade.

 

Entretanto, nosso último avistamento faz apenas meses, em Brasília. Ele esteve uma tarde inteira comigo lá em casa. E que boas conversas. Tanto ele quanto eu estávamos alegres com a Graça sobre nós derramada.

 

Havia publicado alguns livros novos, um deles versando sobre teologia e física quântica. Pediu que eu lesse e desse um retorno. Nunca pude dar por escrito, conforme planejei.

 

O Sérgio, filho dele, me disse a pouco que tudo aconteceu subitamente. Estava dando uma aula (palestra) quando passou mal e caiu já indo... Ataque fulminante do coração; e isso sem nenhum antecedente que apontasse em tal direção.

 

Darcy sofreu muito de 1998 até a sua volta para casa (2003 – eu creio). Depois ainda sofreu os infindáveis preconceitos desta geração perversa, e que só reconhece um homem depois que ele já não pode ouvir que foi aceito.

 

Nossos amigos eram os mesmos. Um ou dois se salvaram da onda de perversidade judiciosa que os possui. Todos abandonaram o Darcy. Não sei que desculpas darão, mas o fato é que não foram amigos; não foram nada... Aliás, foram juizes com passos de bailarinos e com vozes de melódicos tenores, mas suas canções e danças, são réquiens no canto e encenação de sepultamento na dança.   

 

Graças a Deus o Darcy não ficou amargurado. Todavia, ninguém me tira da cabeça que essa morte súbita pode e deve ser creditada à dor do abandono frio e glacial que recebeu de muita gente que amou e amava.

 

Ele conheceu o pecado tópico como homem justo, e sofreu mais que contou; e conheceu a Graça do perdão, mas poucos usufruíram de tal maturidade; exceto os colegas de Universidade e os profissionais que com ele trabalharam, tendo eu tido a chance de ouvir de alguns deles a riqueza de graça que do Darcy para eles fluiu.

 

Ele era “alemãozão” de natureza. Fechava-se e sofria calado. Mas algumas vezes o vi derramar lágrimas ao me contar o tratamento que alguns dos antigos amigos e supostos luminares da sensibilidade evangélica deram a ele depois de janeiro de 1998.

 

Até quando se equivocou (e ninguém tem mais de um equivoco para narrar em toda a vida dele), portou-se com dignidade e discrição.

 

Os novos pastores batistas terão que saber quem foi o Darcy. E minha esperança é que ainda haja gente boa de Deus para recuperar e honrar a sua memória.

 

O corpo será velado na Capela do Seminário Batista do Sul aí pelas 14 horas. O Enterro deverá ser no Cemitério do Caju (17h00min).

 

A Heloísa ligou para me dar a notícia. O Sérgio me deu os detalhes.

 

Eu estarei em espírito amanhã com eles; aliás, já estou.

 

Estou em Manaus acompanhando meu pai [que esteve quase morto e reviveu]. Mas como gostaria de estar presente amanhã com a Nancy, o Sérgio e a Heloísa.

 

Assim, de Darcy em Darcy a “igreja” vai perdendo o sonho de ser Igreja!

 

Que o Espírito de Deus acorde uma nova geração de homens e mulheres que tenham pelo menos um pouco da integridade e do caráter do meu amigo Darcy.

 

Entra no gozo do teu Senhor, amado amigo.

 

Logo estaremos juntos; seja logo, logo; ou aquele logo que é logo ali... — como tudo mais nesse mundo fugidio e desbotado.

 

Com toda saudade e com toda a reverencia pela vida de um homem raro entre os Evangélicos do Brasil; e orando cheio de desejo de que o espírito de consolação se derrame sobre os que o amavam de verdade, deixo com a família as minhas orações e todo o amor que pelo Darcy genuinamente nutri.

 

Partiu antes dos 60, ainda jovem, mas curtido nas dores e nos silêncios meditativos.

 

 

Nele, que é o nosso Lar!

 

 

Caio

 

18/08/07

Manaus

AM

 

4 horas da manhã do dia 18 de agosto de 2007

 

 

 

 

 

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