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Devotional

DISCERNINDO E ARRANCANDO RAÍZES DE AMARGURA

DISCERNINDO E ARRANCANDO RAÍZES DE AMARGURA

 

 

 

   

DISCERNINDO E ARRANCANDO RAÍZES DE AMARGURA

 

 

 

A amargura é quase sempre imperceptível para quem, amando o que é bom, a sofre.

 

Isto porque, em geral, quem se preocupa com algo como a amargura, o faz por não aceitá-la em si mesmo; e, por tal razão, veste-a com as roupagens do “direito”, da “justiça”, da “realidade”, da “inegabilidade da ofensa sofrida”, dos “fatos”, das “cronologias”, das “acumulações de justiça-própria”; e até mesmo cobre-se com “verdade confessada” pelo sujeito-objeto de sua amargura — e, assim, o amargurado não se sente amargurado, mas sim injustiçado.

 

Auto-engano!

 

É assim é que o caminho de agravos um dia injustos e feitos contra você, com o passar do tempo vão se tornando agravos seus contra aquele que um dia foi ofensor; além de tornarem-se também agravos contra você mesmo, pois, a amargura tira a sensibilidade de algumas dimensões do ser.

 

Durante muitos anos eu tinha certeza diária de não deixar nenhum sol físico ou psicológico se pôr sobre nenhuma ira em mim.

 

Foram anos de muitos carinhos recebidos de milhares; mas também de muitas estranhas invejas; e de muitos amores e admirações esquisitos convergidos para mim.

 

Inimigos sempre houve; embora a maioria fosse muito dissimulada; pois, naqueles anos, dizer que se tinha algo contra mim ou mesmo que se não concordava comigo, era “crime” para a alma evangélica “apaixonada” pela figura “totêmica” que eu passei a representar para gente demais.

 

Mas foi quando o Telhado Caiu (1998) que as amarguras encontraram o lugar de minha alma.

 

Ora, eu tinha consciência de meu pecado (e o confessei para os implicados, para os amigos, e para o povo evangélico mediante cartas e uma longa entrevista na “Revista Vinde”, em outubro de 1999); e também consciente e responsável me punha ante todas as transgressões que cometi contra a minha consciência não apenas em 98, mas, de fato, desde 1995, quando senti que uma brecha se abriu em mim, em razão de processos de desesperança que me acometeram o coração.

 

Sem a esperança da fé a alma não se alimenta do oxigênio da pureza de coração, o qual, segundo João, é a esperança; pois ele diz que todo aquele que vive na esperança da glória de Deus, a si mesmo se purifica.

 

Sem profecia o povo se corrompe, porém, sem esperança o profeta murcha e transgride contra sua própria mensagem.

 

Jonas que nos diga!

 

Entretanto, as machucaduras verdadeiras e sérias não me vieram dos punhais dos inimigos. Eles sempre vazaram energias hostis, embora, pela covardia, fossem sempre dissimulados e ambíguos em tudo.

 

A dor veio de dentro, dos filhos mais chegados, dos “discípulos adotados”, dos que comiam do meu pão; que me tratavam como a um pai, e que diziam o tempo todo que de mim recebiam apenas generosidade, misericórdia, estimulo, e, sobretudo, a criação de muitas oportunidades para que crescessem ministerialmente.

 

Foram muitos. Uns bem íntimos, os quais freqüentavam a minha casa e gozavam de minha amizade e da de meus familiares desde sempre. Outros não tinham essa intimidade, mas recebiam o tratamento e as ajudas que somente os íntimos recebiam; e isto apenas porque nunca consegui ver potencial humano sem tentar ajudar a pessoa a expressá-lo ao máximo.

 

Digo isto com essa tranqüilidade em razão de que tudo isto foi visto e acompanhado por muita gente boa de Deus; e todos estão vivos hoje, lendo estas linhas, enquanto dizem: “É Verdade!” É fácil falar quando é verdade.

 

Todavia, lentamente, na medida em que saía de 98 e entrava em 99, depois no ano 2000, fui vendo, esmagado de tristeza, que aqueles que comiam lá em casa, e que foram mais ajudados muitas vezes do que os próprios parentes, eram justamente os mais mordazes, ferinos e envenenadores de almas em relação a mim.

 

Amigos sinceros me disseram que foram ou participaram de encontros, convocados ou espontâneos, nos quais se discutia desde o que de meu ministério cada um poderia pegar, até coisas como o que fazer para me substituir junto ao povo.

 

Depois de três anos um amigo muito enfronhado nesses meios, me disse de um antes filho meu, que, olhando para ele, afirmou o seguinte: “Já faz três anos. Tenho feito tudo o que ele fazia. Mas o povo não me ouve. O que ele tinha que eu não tenho?” Meu amigo respondeu: “Ele nunca buscou nada!”.

 

Então, devagar, fui ficando ressabiado. Cheguei mesmo a pegar um desses meninos-filhos-na-fé e dar umas sacudidas nele; enquanto com tristeza e lágrimas o ouvia confessar que me invejara o tempo todo, que queria ser eu sim, que desejava ocupar o que antes eu tivera; e que era assim em seu coração apenas porque eu não fora fiel; e mais: ele disse também que havia uma espada de Deus sobre mim. Por isso, afirmava ele desejar ser eu na nova história.

 

Confessou tudo, enquanto eu olhava para ele e chorava de dor, antes de me por de joelhos e orar por ele. Depois de tudo, olhando bem nos olhos dele, disse que se ele continuasse a mentir eu apertaria “play”.

 

De fato, ali por 2001, eu estava tão cansado de tanta fofoca de pessoas como ele, que, mesmo não sendo uma prática minha, gravei a conversa toda. Depois, todavia, desgravei a fita, não sem antes pedir que duas testemunhas idôneas a ouvissem.

 

Desse modo, sem sentir, e dia a dia me sentindo mais injustiçado pelos modos cruéis deles, fui me enchendo de justiça-própria.

 

Quando escrevi o “Enigma da Graça” eu estava, entre outras coisas, também fazendo minha catarse pessoal em relação a isto. Botei aqueles sentimentos para fora enquanto cada vez mais entendia os “amigos de Jó” nas manifestações dos meus “amigos”.

 

Todavia, uns dois ou três desses fiapos de amargura continuavam me fazendo mal, sem que eu mesmo os percebesse. Afinal, eles me vinham com aqueles sentimentos antigos das injustiças ou do exercício de doenças daquelas pessoas projetados sobre mim, gratuitamente, e por um tempo muito significativo.

 

Ora, esses fiapos foram os que mais lentamente saíram de mim. Mas, de ontem para hoje, me dei conta do poder de um desses fiapos de amargura em mim; e, chocado com a existência de uma raiz de amargura em mim, e já não vendo nada mais como verdade, justiça e hombridade, tomei a decisão diante de Deus de fazer esta confissão.

 

A pessoa que representa esse fiapo de raiz de amargura em mim sabe que é dela que falo. E, diante de Deus, agradeço a chance de poder estar vivo, lúcido e feliz por ter recebido essa percepção; e, sobretudo, por estar tendo essa liberdade no espírito da verdade que liberta.

 

A semente da plenitude do Evangelho só nasce no chão úmido do quebrantamento e só cresce sob a luz da verdade!

 

Esta é minha confissão; e também minha celebração de liberdade no Espírito, por mais uma área de minha existência que está sendo curada de machucaduras passadas.

 

 

Nele, em Quem quero me arrepender sempre que arrependimento for verdade; e em Quem desejo ter o coração limpo a fim de cada dia ver melhor a face do Pai,

 

 

 

Caio

 

Escrito em Julho de 2007

Lago Norte

Brasília

 

 

 

 

 

 

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