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Igreja com propósitos ou o propósito da Igreja?

Igreja com propósitos ou o propósito da Igreja?

-----Original Message-----
From: Ricardo
Sent: terça-feira, 15 de julho de 2003-- 10:19
To: contato@caiofabio.com
Subject: Palavra e Crescimento

Mensagem:
Pastor, Caio: bom dia, que Deus te abençoe muito!
Neste fim de semana eu fui muito abençoado ao ouvir um sermão seu.
Comprei uma fita cassete em uma livraria evangélica, com o tema: O Grande mandamento.
Era um sermão que você havia pregado acho que por volta de 1984, ou 85—era um culto na IP Betânia, quando vc era Pastor de lá.
Mesmo sendo um sermão "antigo" me foi novo e foi como se eu estivesse no culto da Betânia naquele dia.
O sermão, as orações e as músicas do Pr. Josué, muito me abençoaram. Deus te abençoe!
O meu grande dilema desde já é a seguinte questão:
Hoje o crescimento da igreja tem estado na pauta das discussões dos seminários, congressos e na boca e nos assuntos dos pastores, mas na maioria das vezes como “um fim em si mesmo”.
A maioria dos ministério que eu conheço e que são considerados bem-sucedidos, são aqueles que crescem mais.
Mas como lidar com essa questão, pois nem sempre a igreja quando a igreja cresce significa que ela está cumprindo os propósitos do Reino.
Mas o que dizer de uma igreja que passa décadas trabalhando e continua sem crescer?
Qual é o ideal para o trabalho?
Será que uma igreja que permanece durante anos sem crescimento, ou com um crescimento pequeno, será que pode ser considerada uma comunidade sadia?
Pois essa é a minha crise no ministério...
Sei que devemos buscar o crescimento no ministério, mas e quando ele não acontece?
Como entender ?
A onda na igreja evangélica hoje são os modelos de crescimento de igreja, como: Rede Ministerial, Igreja com Propósitos, Igreja em Células, entre outros...
E muitas igrejas que adotaram algum desses modelos, cresceram.
Na sua opinião, é o ideal que toda a igreja tenha uma declaração de visão, missão e propósitos?
Utilizar alguns elementos de administração na igreja é prejudicial ou benéfico?
Pois, Pastor Caio, existe essa tensão no ministério, e como seminarista tenho visto que existe crise nas vidas dos futuros ministros.
A grande maioria quer ter uma experiência em uma igreja grande, e quando não aparecem oportunidades de serviço, existe muita frustração entre os seminaristas.
È errado alguém que é de uma comunidade pequena conhecer a estrutura e trabalhar em uma comunidade grande e desejar isso?
E quem vem de uma comunidade grande, não é uma boa experiência conhecer o ministério de uma pequena igreja?
Gostaria de ouvi-lo a respeito.

Um abração

Ricardo

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Resposta:

Meu querido Ricardo,

Que bom que a Palavra é viva e eficaz.
O assunto da mensagem e dos métodos se entrelaçam.

Veja:

1. Daqui a cem anos, se meu português ainda for compreendido pelos brasileiros vivos, a Palavra estará realizando o mesmo efeito. Mas os métodos atuais estarão todos sepultados.
2. A Palavra permanece. Os métodos se desgastam.
3. A Palavra e o Método, em Cristo, devem ser uma coisa só: “Assim como Pai me enviou, assim também eu vos envio”. Encarnação da Palavra é o Meio.
4. Quando o método vira um fim-em-si-mesmo, é porque a Palavra já virou meio de vida, não a encarnação da vida, no meio das coisas.
5. Jesus andava e levava em Si a Palavra e o meio: Ele mesmo.
6. Os apóstolos não se preocupavam com métodos como métodos, mas apenas como meios circunstanciais e momentâneos. Paulo diz: “Fiz-me de tudo para com todos, a fim de salvar alguns”. E, para ele, o meio era a encarnação: aos judeus, como judeus; aos gregos, como grego...tudo, para com todos...mudava conforme a esquina, não conforme a década, ou a moda. Não é mole...é duro mesmo. Mas só é duro para quem não tem o molejo da Graça e da Vida. Para quem tem, é simples como respirar.
7. A fixação nos modelos e métodos apenas denuncia duas coisas: a falta de conteúdo (Palavra) e a cobiça de poder (Crescimento).
8. Nem tudo o que tá certo, dá certo. E nem tudo o que dá certo, tá certo. Se o critério fosse esse, teríamos que dizer: Viva o Islã!
9. A Igreja está no mundo para crescer também em número, mas não à qualquer preço, muitos menos como sacrifício da Palavra—que é o que sempre acontece! Tudo isto te darei se prostrado me adorares, não procede da boca de Deus. Também não vale transformar pedras em pães e nem pular do Pináculo do Templo.
10. Estou na “pista” há algumas décadas e, pessoalmente, já discuti esse assunto milhares de vezes. Há vários livros meus sobre o tema. Continuo pensando igual: quem tem a Palavra, lida com os meios como simples meios, mas não oferece pacotes e, muito menos, procura um pacote. A criação de pacotes, sacraliza os meios e corrompe a Palavra, que fica subordinada aos meios.
Assim, respondo:
1. O meio só tem hoje tanta importância para quem a Palavra virou um meio de vida.
2. A ênfase no crescimento é uma mentira que esconde a sede de Poder e de Aparecer. Se a questão é espalhar o Evangelho, por que, então não se vai por todo o mundo e se o prega a toda criatura? No Brasil—como na maior parte do mundo—, o crescimento da “igreja” é apenas um concurso de quem tem “um maior”. Coisa de menino. Quem quer ver a gloria de Jesus faz como Paulo em Romanos 16: “Não fui ainda aí, ó romanos, porque já tem muita gente aí...tenho me esforçado para não perder tempo...vou passar por aí indo para a Espanha”.
3. O que estamos assistindo não é novo, no meio evangélico se tornou apenas mais feio. Mas é tão velho quanto Roma e Constantino. É o mesmo espírito imperial de poder que continua a corromper a “igreja”, que mesmo sendo evangélica, continua católica de nascimento e alma: Constantino é constantemente o contínuo continuador da continuação do contínuo constantinianismo: o poder do poder, prevalecendo sobre o poder da Palavra.
4. Sem medo de errar: quem quiser ser do Evangelho, pregue a Palavra da Graça e deixe o Espírito dar a ela o tamanho que ela tem, e que não se pode medir com estatísticas, mas pela manifestação de graça e vida.
5. O exemplo brasileiro mais puro—não perfeito—do que digo, é a Congregação Cristã do Brasil. Ninguém sabe dela. Mas é maior que a maioria. Há métodos? Há marketings? Não! Há Palavra. Há honra ao Espírito. Há a certeza de que o corpo efetua o seu próprio crescimento, conforme Paulo.
6. O que assistimos hoje é uma “igreja” no CTI e que está feliz com a modernidade das máquinas e tubos que a mantêm artificialmente viva. Os atuais vendedores de método, são fabricantes de material hospitalar e que conseguem fazer o paciente se sentir bem por estar todo ligado nos aparelhos, sentindo que à todo tempo sai uma máquina velha e entra outra mais nova, mas o paciente nunca recebe alta.
7. De minha parte, digo: ME TIRA O TUBO!
Beijão,
Caio

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