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MEUS PARAÍSOS CAÓTICOS!

MEUS PARAÍSOS CAÓTICOS!

 

MEUS PARAÍSOS CAÓTICOS!

 

 

 

Acordei me sentindo muito bem e fui logo molhar as plantas… Elas me fazem bem quando me sinto mal, e melhor ainda quando estou me sentindo bem…

Não sou especialista em plantas...

Apenas as amo.

Ora, esse sentir por elas é algo que me veio inicialmente da “Mãe Velhinha”, a minha vozinha materna, que me acordava de madrugadinha, todos os dias [...], para ver o sol nascer [ela dizia que quem não via o nascer do sol não conheceria aquele dia], para jogar milho pras galinhas [ela as amava, mas as comia...], e para molhar as plantas...

E mais: não se molhava com mangueira de borracha, mas com “jardineiras” de metal, de lata; de modo que o processo de molhar era intimo e pessoal, posto que se tivesse que molhar quase planta a planta...

Mamãe já não era muito das duas primeiras lições [a do sol e a das galinhas], mas era é da ultima: do carinho pelas plantas... e dedicação molhada ou podada a elas...

Depois, aos dez anos, fui afastado de tais rotinas, quando mudamos pela primeira vez de Manaus para o Rio.

Lá o sol nascia atrás dos prédios, as galinhas davam ovos no Super Mercado Disco ou nas Casas da Banha, e as plantas estavam presas nos engradados dos canteiros dos passeios públicos; no apartamento só cabiam vasinhos...

Quando voltei para Manaus em 70/71 as rotinas da infância se haviam perdido dentro de mim aparentemente para sempre...

Depois de muita loucura veio o Encontro com o Criador. Então, de modo Universal, ressurgiu o meu amor pela criação, mas sem tempo para as plantas, pois, do Encontro veio o desejo de pregar e pregar aos homens, não às plantas...

Ao retornar ao Rio aos 26 anos, já pai de dois filhos e a caminho de um terceiro, não suportando a vida nos apartamentos [fizemos duas tentativas na chegada...], mudei para uma casa, e, lá, re-senti as plantas como Graça de Deus para mim...

Plantei e molhei muitas plantas naquela casa alugada...

Então consegui comprar uma casa em Piratininga, que naquele tempo era o fim do mundo...

O jardim da casinha era uma graça...

Dois artistas residiam lá antes de mim...

Assim, herdei algo de muito bom gosto...

Entretanto, não resisti e enchi o jardim de mais plantas ainda...

Descobri que amava mais a impressão de natureza que um jardim poderia ter do que as formas convencionais de um jardim “bem cuidado”...

Esse tipo de jardim costuma ser chamado de “paraíso”, que é quando tudo é bem cuidado, mas não bem arrumado; carregando, no entanto, inequívoca beleza...

Depois de um tempo, já aos 30 anos de idade, não eram mais os jardins que precisam de mim, mas eu deles...

Fui com a família passar dois anos nos Estados Unidos na década de 80 e vi que não importava de quem fosse o jardim ou a casa, o que eu queria mesmo era sugar o bem e o frescor das plantas...

Eram horas e horas por dia [...] e até à noite molhando as plantas e andando descalço pela grama...

Elas me reverdeciam a alma...

Ao voltar para o Brasil em 90 mudei de casa, e nela fiz o meu jardim... Sempre com plantas de flor, de fruto e com alguma água com peixe...

Cada dia mais necessitava delas...

Chegava exausto e ia molhá-las ato continuo...

Quando mudamos para a Florida por cerca de quatro anos, tempo no qual eu ia e vinha todas as semanas, fiz a mesma coisa...

Lá, como já disse antes, entre tantas graças, sei que também fui salvo pela natureza, pelo mar, pelos lagos, pelo sol, pelo vento, pelos canais, pelo acampar, pelo deitar e dormir a céu aberto...

Então, no meio do Dilúvio [1998], mergulhei cada vez mais na natureza...

No final de 1999 voltei ao Amazonas com avidez de menino e mergulhei nos aromas e sensações da floresta...

Ia ao Amazonas umas seis vezes ao ano entre 1999 e 2004, ano em que meu filho Lukas partiu...

Agora, já desde 2000, Adriana ia comigo!...

Tivemos algumas das experiências de vida e alegria mais intensos de nossas existências [...] lá no meio do mato e na natureza!...

No Rio tentávamos ir à praia todos os dias de sol...

Eu nadava e nadava...

Precisa do mar...

Então viemos para Brasília...

O primeiro ano foi na Academia de Tênis... Muito verde, mas pouca natureza...

Depois de um ano e meio viemos para esta casa no Lago Norte...

Foi entrar e sentir...

Era aqui...

Esperamos a poeira baixar e começamos a plantar...

Adriana ama plantas e já havia trabalhado com jardinagem...

Aliás, uma das coisas que ela me disse quando estávamos nos conhecendo é que ela gostaria de morar numa casa em que houvesse muitas flores...

Aqui estamos nós...

A casa não é nossa...

Nada é nosso...

Nunca nada será nosso...

Mas as plantas são dádivas de Deus aos que, mesmo se sentindo hebreus e andarilhos, aonde chegam plantam seu jardim...

Outro dia uma especialista em jardins disse que meu gosto era estilo “paraíso caótico”...

É mesmo!...

Sem um pouco de caos, ou seja: de natureza, não vejo beleza nas arrumações dos homens com as pobres das plantas...

É planta redonda, quadrada, com forma de cone, de veado, de elefante, de cachorro, de tudo que é bicho; um verdadeiro zoológico vegetal...

Ou então são jardins bem comportados demais...

Para mim a coisa começa a ficar boa quando o jardim desenvolve seu ecossistema...

Aqui já existe um ciclo... Uma cadeia alimentar que vai de pássaros a peixes...

Tentamos interferir o mínimo possível em tudo... Apenas limpamos...

Onde há arvores, plantas, flores, frutos, sombra, terra e água fresca, aí a vida faz sua casinha...

É assim que estou neste domingo de manhã...

Esta é minha confissão de gratidão a Deus por terapia tão gratuita...

Esta é minha gratidão ao Pai pela Mãe Velhinha e pela minha mamãe, sem falar que meu pai não era apenas homem dos belos jardins, mas das matas densas...

E, no meio de tudo isto, gratidão total pela minha mulher, que não apenas planta e conhece muitas plantas, mas curte tudo o que fazemos na caoticidade das nossas próprias apreciações.

Obrigado Senhor pelos bons amores!

 

Nele, que criou para o nosso bem e salvação,

 

Caio

20 de dezembro de 2009

Lago Norte

Brasília

DF

 

 

  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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