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TÔ MORRENDO DE RAIVA DELA...

TÔ MORRENDO DE RAIVA DELA...

 

----- Original Message -----

From: TÔ MORRENDO DE RAIVA DELA...

To: contato@caiofabio.com

Sent: Monday, March 02, 2009 4:06 PM

Subject: Fantasmas da mente!

 

Olá Caio!

O que você faria após uma separação em que sua mulher logo pusesse outro pra morar com seus filhos de 11e 16 anos?

O cara tem 30 anos; a ex 38 anos.

Como ficariam seus filhos nesse ambiente?

Como gerenciar isso sem fazer besteira?

Isso dói muito ao ponto de quase enlouquecer e fazer besteira.

E os fantasma da psique que me perseguem todos os dias junto com o ódio mortal que ainda sobrevém à cabeça todas as manhãs?

Como dialogar com  alma e pedir para que fique quieta submetida ao Espírito do Senhor?

O diálogo não acaba?

Não da uma pausa?

É pro resto da vida esse diálogo?

Como se libertar e continuar a viver sem dependência das atitudes da ex?

Como Caio?

Apenas ficar quieto e deixar rolar?

Não quero viver assim.

Às vezes melhoro, mas no dia seguinte fico pra baixo.

Que coisa estranha.

Será que é luta diária, de Fé em fé?

Meu Deus! Às vezes fico confuso.

Só quero viver em paz e seguir minha vida cuidando dos meus filhos.

Estou tentando marcar uma consulta com sua irmã Ana pra minha filha.
Sabe Caio, sei que tenho que fazer uma auto reflexão do que fiz na minha vida.Verificar os erros e não mais cometer as besteiras que fiz.

Não quero mal pra ninguém. Só quero ficar livre desses fantasmas do passado. Só isso.

Quando sigo em frente, logo, de repente, vêm aqueles entulhos do passado; aqui, especificamente, a traição da ex.

Eu a traí e confessei.

Mas ela deu o troco muito desproporcional, se é que posso classificar assim.

Que vergonha que tenho dos meus filhos!

Como devo agir?

Como viver essa situação?

É só seguir em fé?...

Na fé tudo é possível no controle desses fantasmas?

Leio o seu site todos os dias. Sei que preciso de libertação emocional. Como alcançar isso de uma vez por todas, amigo?

Será que isso precisa de maturação, de mais tempo?

É um processo que depende mais de mim ou de esperar pela ação do Espírito de Deus?
Ficamos casados 16 anos. E faz oito meses que nos separamos.
Obs.: Agora entendo que a traição é coisa do diabo. Não querendo aqui fazer transferências. A dor é diabólica.
Obrigado amigo,
_____________________________________

Resposta:

 

Meu irmão amado: Graça e Paz!

 

Mano, imagino a sua dor e aflição. Quero, no entanto, que você leia o que lhe direi com seu melhor coração. Caso contrário, você não aproveitará o que lhe direi a seguir.

Toda traição acaba o casamento.

A continuidade já é um outro casamento, ainda que com o mesmo cônjuge.

Aquele casamento anterior, agora, após a traição, caso não acabe, terá que recomeçar sobre bases novas: as do perdão.

Existe o casamento do gosto, do desejo, da paixão e do amor. Afinal, casamento é fruto de tais coisas, caso se deseje que ele case os que se casam.

Mas também existe o casamento que nasce do perdão, e, então, retoma todas as demais coisas, incluindo as memórias, as boas, do casamento anterior à traição.

Digo isto para afirmar que quando você a traiu, o casamento acabou.

Somente não teria acabado se ela também tivesse perdoado e amado você depois disso, outra vez; e com todo o desejo de fazer com que o que, sendo verdade, pudesse outra vez tornar-se realidade.

O que nos custa crer é que a traição, especialmente a masculina, acabe o casamento.

Para a maioria, até para muitas mulheres, parece que somente traição de mulher é que seja algo forte o suficiente para acabar o casamento.

Homens acham que têm pelo menos nove vidas, como gatos, nesse quesito da traição conjugal. Mas quando a mulher faz, já é cachorra na primeira.

Por isso, tudo parece desproporcional mesmo. Afinal, além de trair você, de dar o troco, ela ainda levou o amante para dentro de casa. E mais: seus filhos, ainda meninos, estão juntos. E ainda: o rapaz é um menino se comprado a você.

Entretanto...

Na vida, falo por experiência própria, a gente semeia ventos e sempre colhe tempestades!

Sua raiva, todavia, sobrevive de sua auto-justificativa:

Traí, mas confessei e parei; ela, porém, traiu e fez pior; pois, além de tudo, era um menino; e agora ainda pega a minha mulher na frente das crianças”.

Meu irmão, o casamento acabou quando você a traiu. Confessar fez bem a você, mas não deu garantia de mais nada...

O que ela fez, arranjando outro homem, e, nem bem se separando já o tendo levado para dentro da casa que vocês compartilhavam junto com os filhos, é louco e insensato.

Mas, creia: desde que você a traiu é um problema dela apenas.

Infelizmente, todavia, seus filhos estão no meio da confusão.

Assim, digo que você não tem muitos problemas, mas apenas um: os seus filhos.

Tudo o mais, todos os porquês, enfim, todo o questionamento a Deus e à vida, creia: é coisa que se você pensar como homem que não transfere responsabilidades, e que também não faz medições do tipo: quem errou mais? — não teriam espaço em você.

Um dia fiz algo que iniciou um processo ruim na minha vida. No dia em que iniciou senti que um grande edifício de cristal estava ruindo nas minhas costas...

E, quando ruiu, não botei a culpa em ninguém. Eu sabia que quem joga a primeira pedra será feito montanha de pedra; e sabia que quem com ferro fere, com o ferro será ferido.

Entretanto...

Seus filhos estão no meio disso.

Portanto, o que fazer?

Constitua um advogado e divorcie-se dela. No processo discuta, via advogado [caso vocês dois não consigam falar sem brigar muito] a situação das crianças.

Ora, se você não fizer nenhuma besteira, se não perder a cabeça, se não invadir a casa ou se não ameaçar ninguém — então, sua chance de compartilhar a custodia dos filhos será grande.

Entretanto, mesmo assim, você terá que engolir muitos e muitos sapos, quietinho, mansinho, separando as coisas, deixando que a vida dela seja dela; enquanto você faça o melhor da sua.

E mais:

Se você e ela amam os filhos, então, haverão de deixar as passionalidades das traições de lado e pensarão como gente grande.

O diabo secundário da traição em casamentos com filhos, sempre é a tentativa de ambos os ex-cônjuges de usarem os filhos para ofenderem-se mutuamente; ou para sabotarem um ao outro; ou ainda a fim de buscarem afastar os filhos do pai ou da mãe; e sempre fazendo isso mediante a difamação ou o esculacho do outro.

Um homem que nunca traiu a mulher, e é por ela traído, caso a ame e veja que ela o ama, deve perdoá-la, e seguir a vida.

Um homem que nunca traiu a mulher, e é por ela traído, caso a ame a esposa, mas veja que ela não o ama, deve deixá-la seguir o seu caminho, porém, tratando-a com toda dignidade e respeito.

Um homem que traiu a mulher, e é por ela traído, caso vejam que não se amam, devem saber que quem primeiro fez, primeiro acabou; e que quem fez depois, apenas confirmou pela mesma via perversa aquilo que já estava terminado no 1º ato de traição.

A menos que, como disse antes, tenha havido um recomeço pela verdade do amor existente entre ambos, embora um tenha sido desleal um dia — porém, arrependido, tenha sido perdoado.

A resposta a cada uma de suas perguntas está em uma simples atitude de homem adulto, de caráter e que não anda pensando em desproporcionalidade de traições.

Se você achasse que a grande gravidade veio de você, se não estivesse tão cheio de moral, de honras perversas e de reputação de macho traído; e se achasse que de fato o que ela fez é problema dela, e que se tiver que haver raiva, seja de você por você mesmo, pela sua traição; e se, além disso, você também fosse adulto o bastante para chamar você mesmo às falas, dizendo para você parar com essa justiça-própria [pseudo-senso de proporcionalidade na traição] — então, meu querido, logo esse vulcão se apagaria em você; posto que tudo isso se alimente de sua fantasia de homem-macho-traído; e, também, de sua desproporcional idéia de que ela poderia ter “pegado leve”...

Entretanto, diga-me: quando a traiu você se preocupou com o que poderia acontecer aos filhos?

Você perguntou:

Como ficariam seus filhos nesse ambiente?

Como gerenciar isso sem fazer besteira?

Respondo:

Meus filhos saberiam com quem e como ficariam. A questão são os seus filhos. E mais: como se saberá a menos que eles digam que estão sendo maltratados? Sem isso, o resto é viagem de ex-marido com raiva da situação, que não é nada confortável.

Como gerenciar?

Ora, com todo amor pelos meninos e com muita sobriedade e consciência de sua própria responsabilidade como pai, não como ex-marido traído e ciumento.

Mano, essa é a diferença entre meninos e homens!

Agora, seja simples e prático; e se ama seus filhos, e não os ama ainda mais agora também por causa da raiva que alimenta da mãe deles [a traidora] — então, faça o que lhe disse; tome os passos acima propostos; e aja com mansidão.

Afinal, se seu grande problema tem a ver com seus filhos, tudo o de que você não precisa é fazer também mal a eles criando uma quinzumba do diabo nisso tudo.

Li a sua carta e me deu apenas vontade de dizer:

Meu amado irmão, olhe no espelho sem essas auto-justificativas que você criou para diminuir sua responsabilidade, e, depois, me escreva, caso ainda sobrem algumas perguntas.

Entretanto, senti as misturas de emoções em sua alma, e, por isso, decidi dizer o que você deve considerar a fim de ficar livre desses fantasmas.

E mais:

Não fique imaginando o sexo entre ele e ela.

Essa é outra coisa do diabo nessas horas!

Mano, acabou!

E não tem mais [...] nada reticente [...]

Acabou!

Agora é pegar as pedras da ruína e fazer um novo lugar de vida possível para você e seus filhos; até que chegue mais alguém em sua vida, o que certamente acontecerá.

Como você viu, neguei-me a “teologizar” sobre o seu casamento; pois, além de que seria impróprio e irresponsável, seria também uma transferência de responsabilidades, não para o diabo, mas para Deus, que acaba na história como “o diabo a ser amado apesar de tudo”; afinal, Ele é “Deus”.

Mano, Deus não tem nada a ver com isto!

Nessa hora... — em Deus se deve buscar perdão e graça para continuar; e continuar melhor.

O mais é conosco.

Sim! O mais é com a gente; com a gente andando com sabedoria, fé e muita responsabilidade adulta.

Dizer outra coisa é pecar contra a verdade.

Receba esta carta com amor!

Não seria amor se eu tratasse você como a um menino doído...

Um beijo carinhoso.

 

Nele, que perdoou e deu a outra face; e que também ensinou que não há vantagem em comparar culpas,

 

Caio

5 de março de 2009

Lago Norte

Brasília

DF

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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