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UMA PEDRA BRANCA EM PORTO FERREIRA

UMA PEDRA BRANCA EM PORTO FERREIRA

 

 

 

 

 

UMA PEDRA BRANCA EM PORTO FERREIRA

 

 

 

Sugestão: leia em Apocalipse 2 e 3 todos os finais das sete cartas às sete igrejas da Ásia, e veja o que Jesus promete dar ao vencedor.

 

 

 

Ontem em Porto Ferreira saí para pregar correndo... Cansados, Adriana e eu dormimos quase até à hora da reunião da noite, depois de dois dias de pouco sono. Esqueci o laptop no quarto do hotel, daí não termos transmitido a reunião de ontem na rádio (leia meu PS no anuncio sobre a rádio do site).   

 

Cheguei suado e suando. Ia pregar em Efésios 4 e 5. Então um irmão veio e me deu uma pedrinha branca, e disse: “É para quando você chegar com Jesus, e poder dar a pedra, e Ele vai escrever seu novo nome”. Riu e saiu...

 

Mas eu fiquei orando e dizendo a Jesus que eu não tenho nem a pedra para oferecer a Ele, que Ele vai ter que me dar tudo.

 

Então me deu vontade de pregar sobre o que a pedra branca do Apocalipse sugere; que é galardão como processo infinito de individuação no mistério de Deus e de si mesmo:

 

Uma pedrinha branca com um novo nome que ninguém conhece, senão aquele que o recebe”.

 

Individuação é o processo de auto-conhecimento que leva o individuo não ao individualismo, mas ao abandono do self feito de muitas personas e incorporações miméticas que fez consciente e inconscientemente, até que ele seja apenas ele mesmo em Deus.

 

Ora, em um mundo caído, sendo o homem um ser caído e pecador, tendente ao não amor, à inveja, ao descaso, ao ciúme, ao desejo de posse e poder, e, portanto, ao egoísmo — não existe processo de individuação sem poda, sem cortes, sem amputações e sem “perdas”.

 

Sim! Pois o homem está lá no fundo daquilo que como sombra percebe-se do lado de fora, ou nas camadas da alma do individuo.

 

Ah! Muito existe que não sou eu entre eu e minha manifestação na existência. São camadas que precisam ser retiradas, descascadas, até que os excessos dêem lugar a mim.  

 

São essas camadas de um “eu” que não sou eu mesmo, as coisas que nos escondem de nossa essência mais intima, assim como uma grande pedra de mármore esconde a Verônica — Vero Ícone — [cara verdadeira] de meu olhar sem que o artista descasque a pedra bruta até chegar à mulher que dentro da rocha estava oculta a todos.

 

Talvez a primeira vez que minha consciência tenha se apossado do principio da individuação como algo que o Evangelho tinha que realizar em mim, foi quando entrei pela primeira vez no Vaticano, na Basílica de São Pedro, e vi a estatua da mulher correndo contra o vento, vestida em seda transparente, e que carrega na mão um lenço com as marcas da face de Jesus, retratando uma das lendas católicas sobre a mulher, Verônica (digo lenda, pois não está na Bíblia e, além disso, o nome do personagem, Vero Íconi [Verônica], remete tudo para a perspectiva da lenda) — a qual teria enxugado o rosto de Jesus enquanto Ele carregava a cruz, e voltado para casa com um lenço que tinha a face de Jesus impressa no pano.

 

Obviamente a história pouco importava a mim, mas a imagem esculpida, em si mesma, me falava de uma outra maravilha, e que não é lenda. É a maravilha de que um ser humano algum dia tenha arrancado de uma grande e bruta rocha aquela mulher vestida em seda, com cabelo esvoaçado contra o vento, e que exibe formas de uma beleza viva.

 

E pensei: “Quanta pedra teve que ser retirada daí até que essa mulher aparecesse!”

 

Ora, esse pensamento me levou imediatamente ao trabalho de Deus em mim, ao Seu esculpir em minha existência, e no trabalho Dele de tirar toneladas de pedra de sobre mim, até que eu apareça em minha face verdadeira.

 

Ora, naquele tempo, tudo em mim falava de negações de meu eu, o qual era por mim ainda muito confundido com minha alma como estado psicológico, e com as emulações do meu corpo, ao mesmo com os pequenos sentimentos de impaciência, etc.

 

Entretanto, com o passar dos anos, depois de longo período sem muita preocupação com o assunto, voltei a ambicionar a “pedrinha branca”, a individuação profunda em Deus.

 

Disse que fiquei um longo período sem me preocupar com o tema, pois vivia sob a real alienação de que o trabalho de Deus estava sendo feito através de mim; e, então, já sem as sadias vontades infantis de ser moldado por Deus todo o dia, julgava que era assim mesmo.

 

Todavia, neste mundo caído e neste homem caído, individuação só é possível através da dor e das perdas.

 

Sim! Foi apenas depois que o Escultor começou a arrebentar a rocha e reduzi-la a pó, até me alcançar dentro do sepulcro de mim mesmo, e, olhar para mim com o amor Daquele que já vê você pronto antes de começar o trabalho — é que voltei a ver que para que o homem que eu-sou-em-processo-de-ser, para desabrochar da pedra para a glória de Deus [a fim de botar a cara verdadeira para fora], eu teria que ser descascado de toneladas de camadas de mármore; e entendi que também teria que sentir cada retirada de rocha de sobre o meu eu como dor de amputação; até que dia a dia minha verdadeira face em Deus vá podendo aparecer; até o fim, quando serei a cara Dele.            

 

Ora, isto acontece em nós, sobretudo, através das perdas que são essenciais.

 

No início o Escultor desse a marreta. É bruto o trabalho, na mesma medida em que ainda é superficial. Depois é que Ele começa a usar ferramentas mais finas e cortantes. E quanto mais próximo Ele chega de nossa face oculta na pedra bruta, mas longo se torna o processo e mais finos e cortantes são os instrumentos de entalhe.

 

Na vida o Pai faz isto nos retirando da montanha de desnecessidade que nos veste e nos esconde a face.

 

Sim! Ele faz isto arrancando os Everestes que nos cobrem o rosto verdadeiro; a fim de nos patentear o rosto, cada vez mais sem cera, sem véu, e sem mascaras.

 

Assim, se somos filhos e não bastardos espirituais, o Pai vai nos arrancar da montanha de ilusões rochosas que nos encobrem a verdadeira face; pois, a pedrinha branca e o novo nome que ninguém conhece, é o galardão da mais profunda individuação do homem em Deus.

 

Foi isto que eu disse ontem em Porto Ferreira, só que com dezenas de alusões à Palavra e com muitas exemplificações tanto nas Escrituras como também na vida de cada um de nós — a começar da minha própria.

 

Nele, que tem um nome singular e incompartilhavel pelo qual chama cada um de nós, até o dia em que nós mesmos conheçamos esse nome,

 

 

Caio

 

10/04/08

Campinas

São Paulo

 

 

 

 

 

 

 

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