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VOCÊ SE TORNA ETERNAMENTE RESPONSÁVEL POR AQUILO QUE CATIVA?

VOCÊ SE TORNA ETERNAMENTE RESPONSÁVEL POR AQUILO QUE CATIVA?




“VOCÊ SE TORNA ETERNAMENTE RESPONSÁVEL POR AQUILO QUE CATIVA?”

 

Certas frases soam tão bem que parecem até ser verdade. Uma delas é essa frase de “Miss Universo” recitada do livro “O Pequeno Príncipe”.

 

Nunca vi uma receita de doença ser escrita com tanta beleza e aparência de verdade! De fato, estou escrevendo isto apenas porque hoje recebi alguns e-mails de gente me dizendo basicamente o seguinte:

 

“Puxa, mandei uma carta pra você fazendo perguntas e abrindo o coração, e você nunca me responde. Continuo amando você apesar disso. Mas quero que você saiba que me cativou. Por isso, quero resposta. Me responda, porque eu amo você”.

 

Todo mundo gosta de ser amado, mas eu já tive mil vidas de amor por mim que quase me mataram.

 

Sim, pode-se ser vitimado e morto por esse tipo de amor “Pequeno Príncipe”.

 

Só Deus sabe as centenas de viagens que não podia fazer mas fiz. Tudo por causa do seqüestro do “amor”.

 

Só Deus sabe quanta coisa minha, pessoal, essencial, e de profunda significação, deixei de fazer, apenas porque estava seqüestrado por esse tipo de amor que ama convenientemente transferindo responsabilidades para você.

 

Não, meus amigos! Não estou mais seqüestrado pelo amor dos que barganham!

 

Esse tal amor é barganha infantil e profundamente seqüestradora. E tem gente que só ama assim: em troca de alguma coisa — preferencialmente em troca de você, de sua alma.

 

Esse amor, hoje em dia, eu o discirno de bem longe. Não me diz mais nada. Enfartei dele!

 

Esse amor é amor de vampiro!

 

Tal amor é doença e gera co-dependência. Você fica seqüestrado pelo outro, sendo que o outro obriga você a ser dele sem que você possa ser, posto que nunca pediu para ser, muito menos para ser daquele modo e com aquelas cobranças. É como ir andando na rua, ser achado bonito, e, em razão disso, ter que ceder a todas as cantadas. Afinal, você cativou pessoas, e, supostamente, não se pode deixar de aceitar responsabilidades por ter gerado algo tão divino nos outros.

 

Tudo bobagem! Narcisismo bondoso, porém, ainda, narcisismo! Eu, todavia, já fui vitima disso, e sei que quando você se arrebenta contra a penha da existência, os seus “amantes cativados” acusam você de os haver traído.

 

Ah, quantos amigos desses eu tive! E onde andam? Cobravam-me presença, atenção, responsabilidades, se diziam irremediavelmente meus discípulos, culpavam-me de os haver convertido e de os haver apresentado um evangelho tão belo, de tal modo que ou eu os atendia ou tinha que viver com a acusação desses amantes cativados.

 

Fiz tudo para agradar a milhares e milhões de amantes fraternos!

 

“A minha vida, ninguém a tira de mim; eu espontaneamente a dou...” — ensinou-me, na pratica, o Senhor.

 

Assim, meus amigos, escaldado e livre, esse gato já não tem donos terrenos que pelo “amor de vampiro” o possam impressionar. Antes, eles tiravam de mim. Hoje, meus queridos, eu dou!

 

Faço só o que posso, e não estou num concurso de amor fraterno. Podem amar a quem desejarem. Fico feliz quando vejo as pessoas amando, não sinto ciúmes de ninguém que seja mais amado do que eu.

 

No entanto, saibam todos: o Bom Pastor, que conhece todas as ovelhas e que pode cuidar de todas: só há um: JESUS! Ele é o Único Pastor porque somente Ele pode cuidar de todas as ovelhas. E mais: somente Ele pôde dar a própria vida e depois reavê-la. Esse mandato, todavia, eu não recebi de meu Pai.

 

Eu —meu Deus!— mal dou conta de meu dia!

 

Assim, amigos, me escrevam. Deus sabe como faço tudo isto aqui com todo amor. No entanto, saibam: eu não estou seqüestrado pelas afirmações do amor de ninguém por mim. Sou responsável por tudo aquilo que eu puder ser, mas não sirvo às neuroses da falsa bondade. Eu me amo o suficiente para não me deixar mais seqüestrar pelo amor barganhante de ninguém.

 

E mais: minhas prioridades, essas eu decido. Nunca mais pretendo deixar que ameaças de amizades forcem o curso de meu caminho.

 

Afinal, meus amigos, eu também amo, e, também, escolho dar amor a quem quero — pelo menos esse amor que envolve amizade e compromisso. E como sou apenas um, posso apenas aquilo que um único um pode.

 

Quem puder mais do que eu, não me cobre; por favor, me ajude!

 

Um beijo,

 

 

Caio


(Escrito em 2003)

 

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